sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ciências – Texto 15

O trabalho no sisal

Já é meio-dia e Éris começou às 7 da manhã.
As pernas, sob o calção curto, estão cheias de feridas pelo contato com as folhas cortantes e seu suco. Enxames de moscas pousam sobre elas. O cabelo de Éris é todo avermelhado nas pontas, de tanto sol na cabeça, mas vida de cambiteiro é assim mesmo: pega a palha e leva no burro; traz fibra descascada e ajuda a mãe a estender nos jiraus, para que seque. Dá duro e já aprendeu a não reclamar, embora tenha 7 anos.
(Extraído de Huzak & Azevedo, Crianças de fibra, 2000, p.132-4)

Depoimento de Paulo Sérgio, menino trabalhador em cultura de sisal, Bahia:
Comecei como cambiteiro aos 4 anos. Com 16 cortava sisal. Meu pai sevava. Quando ele morreu, tive de fazer o serviço. Um dia, uma fibra embolou o motor. Bati nela e ela prendeu meus dedos. O problema não foi só a dor, mas a falta que a minha mão faz.
O sisal dá muito trabalho e pouco dinheiro para quem produz. Se não destocar, enche de mato.
Cortar é perigoso por causa das cobras no miolo da planta e as pontas das folhas podem bater no olho e furar. Carregar, botar, sevar, estender para secar: tudo é longe. Tem de andar muito, com peso, no sol quente. Depois as escolas são distantes, tem de andar mais.
(Extraído de Huzak & Azevedo, Crianças de fibra, 2000, p.135-9)

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